Entidades políticas no município de Cambambe, província do Cuanza Norte, manifestaram hoje, no Dondo, desfavoráveis a uma possível paralisação da cervejeira EKA, localizada nesta cidade.
Entrevistados pela Angop, a propósito do anúncio, em Maio último, de a empresa suspender a produção, a partir deste mês (Junho), devido ao aumento dos custos operacionais, classificaram a paralisação daquela unidade fabril como um retrocesso da região, que já foi considerada, na década de 80, o quarto parque industrial do país.
Para o secretário provincial da FNLA, Fernando Caculo, o encerramento da fábrica representa uma perda imensurável, dado que a EKA se tornou, ao longo da sua existência, num símbolo e numa marca inconfundível no circuito económico da província, em geral, e do município do Dondo, em particular.
Deplorou o facto que acontece numa altura em que os munícipes aguardam, com expectativa, pela entrada em funcionamento da fábrica Satec e são surpreendidos com o encerramento da última unidade de produção em funcionamento na circunscrição, depois do colapso, na década de 90, da antiga Satec, Vinelo e Pré-bloco.
Já o secretário municipal da UNITA, Péricles Dias, disse que uma possível paralisação desta unidade fabril poderá remeter ao desemprego centenas de operários e o consequente agravamento das condições de vida das respectivas famílias.
“A par da já difícil situação económica esperada das famílias, a decisão terá, igualmente, implicações na elevação da taxa de delinquência e da prostituição”, sublinhou.
Apesar de reconhecer o mau momento económico do país, Péricles Dias apelou ao Governo para encontrar um plano de salvação da empresa, por via da sua recapitalização, para se evitar a paralisação.
Já o segundo secretário municipal de Cambambe do MPLA, João António dos Santos, também não concorda com a paralisação, apelou à ponderação da direcção do grupo Castel – Angola, que detém a gestão da fábrica, de forma a salvar o emprego de centenas de jovens que constituem a maior parte da força de trabalho da EKA.
Referiu que, apesar do actual contexto económico mundial, tal medida contrasta com a promessa eleitoral do MPLA, aquando das eleições de 2017, de geração de 500 mil empregos para jovens, nesta legislatura.
“Entendemos que as empresas estão a viver momentos difíceis, mas os accionistas da fábrica teriam encontrado outra saída, dialogando com o Governo e apresentando a real situação da fábrica e não a sua paralisação”, sublinhou.
Já o secretário provincial do Cuanza Norte do Sindicato de Bebidas e Similares, Faustino Ganga, refutou o argumento da queda de rendimentos devido à baixa produção evocada pela direcção do grupo Castel, para justificar a suspensão das operações da unidade fabril.
Afirmou que, apesar do ambiente de negócios menos bom para todas as empresas, a EKA sempre teve lucros, embora aquém do esperado, mas que permitem manter o seu funcionamento.
Explicou que, neste momento, decorrem negociações entre o sindicato e a direcção da empresa, para exigir a observância das cláusulas de rescisão de contrato de trabalho por tempo certo.
Para os contratos ainda válidos, o sindicalista pede ponderação no seu tratamento, propondo que sejam readmitidos após a melhoria das condições económicas da fábrica.
Reconheceu que os seus filiados irão passar por momentos difíceis e, por isso, espera por uma solidariedade do grupo Castel, que deve continuar a investir para salvar a actual situação da fábrica.
De acordo com o director-geral da EKA, Marc Mayer, a paralisação da produção da cervejeira poderá mandar ao desemprego 160 trabalhadores dos 197 que laboram actualmente na empresa.
No total, serão dispensados 64 trabalhadores com contrato a tempo certo e 96 por tempo indeterminado, afectando 160 agregados familiares desses trabalhadores, para além de outros três mil empregos indirectos.
Inaugurada em 1972, a EKA cessou já as suas operações a 01 de Junho em curso, ao cabo de 48 anos de funcionamento ininterrupto.
Neste momento, está apenas a comercializar produtos de outras fábricas do grupo Caste-Angola.